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Des-ser-humano

  • Marcelo Cardoso
  • 15 de jul. de 2016
  • 2 min de leitura

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Sofremos uma série de violências seguidas ultimamente. Os atentados na França, o bullying de cunho homofóbico que matou um adolescente na Rússia, a agressão física de motivação transfóbica em São Paulo contra Viviany Beleboni, atriz que saiu “crucificada” na parada gay.


Geralmente a reação das pessoas é lamentar em tom exclamativo: “Que ato desumano!!”


A expressão me faz divagar sobre o que se quer realmente dizer: será que estão definindo estes atos como algo fora da norma padrão? Significa que geralmente as pessoas são humanas e eventualmente praticam algo desumano, estrangeiro aos nossos costumes? Mas será que nossa cultura é realmente humana?


Tenho a impressão de que somos apenas parte da engrenagem de uma máquina (de consumo) que busca funcionar perfeitamente, sem ruído, sem nada que atrapalhe o funcionamento de suas roldanas, sem resistências. O objetivo é esvaziar tudo que apresenta complexidade e atrito ao seu funcionamento.


Levando em consideração que o humano é o que há nas pessoas de mais complexo, tendo a crer que o que se quer apagar é justamente o humano.


O humano, o complexo, apresenta-nos como obstáculo à cognição, o outro diferente é o que representa de mais resistente. A cultura atual necessita de homogeneidade, assepsia, vácuo para atingir seus objetivos.


Podemos enxergar isto claramente na importância e valoração das ciências ditas exatas em detrimento das ciências humanas. O bordão “o povo de humanas vai fazer miçangas” sintetiza bem o desvalor, aqui representado pelo dinheiro (ou falta dele), das ciências humanas em nossa sociedade (cada vez mais globalizada).


As ciências exatas primam pela imparcialidade, apagam o sujeito, mesmo sabendo que a simples presença do observador altera o resultado do experimento, e geram leis universais de aplicabilidade absoluta até que sejam derrubadas. As ciências humanas abrem espaço aos diversos pontos de vistas sobre um mesmo fenômeno e dialogam com eles, discutem e debatem, relativizam e derrubam generalizações.


As exatas querem encurtar a distância entre dois pontos numa linha reta. As humanas traçam espirais no céu, circunvoluções no mesmo ponto, fazem mergulhos infinitos abaixo do eixo “x” e fora dos eixos. O que nos torna humanos é justamente as complexidades em nós e no outro.


Creio eu que tais atos extremos são apenas extrapolamentos de algo que vivemos em nosso cotidiano e que em certos momentos nos salta aos olhos. E são nessas ocasiões que temos a oportunidade de notar o insidioso em nossas vidas.


“As pessoas moralmente maduras são aqueles seres humanos que cresceram a ponto “de precisar do desconhecido, de se sentirem incompletos sem uma certa anarquia em suas vidas”, que aprenderam a “amar a 'alteridade’.” (Zygmunt Bauman)

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