Somos todos diferentes
- Marcelo Cardoso
- 27 de ago. de 2016
- 2 min de leitura

A celeuma desta semana ficou por conta da campanha idealizada e estrelada pela atriz Cléo Pires e que conta com a participação do também ator Paulinho Vilhena. Todos já sabemos que a campanha intitulada “Somos todos paralímpicos” consistiu num ensaio com os dois atores posando sem os membros (retirados pelo photoshop) como se fossem os atletas paralímpicos.
Segundo a atriz, a campanha foi aprovada pelos próprios atletas e eles estão presentes em outras fotos da campanha. É claro que não se discute a boa intenção dos atores em fazer a campanha e que também são inaceitáveis qualquer tipo de ofensas e xingamentos aos dois.
Porém, debater a campanha é uma excelente oportunidade de discussão quanto à inclusão e à diversidade de gente e foram eles que tornaram isto possível neste momento.
A primeira questão que se coloca é o fato de uma campanha que se propõe a dar visibilidade não ser protagonizada pelos próprios atores e atletas portadores de necessidades especiais. Vejam que a questão está tão arraigada, tão naturalizada, que uma campanha de inclusão se recorre à exclusão para chamar a atenção do grande público. Perde-se a oportunidade de empoderar os atletas, em vez disso se utiliza de uma perspectiva de ajuda em que se recorre a pessoas que ocupam um lugar privilegiado para chamar a atenção para o outro que está num lugar inferior, quando, na verdade, deveria trazer o outro para o mesmo patamar entendendo que somos todos capazes , apenas somos diferentes uns dos outros. Gostaria de dar a idéia para a próxima campanha: “Somos todos Cléo Pires”, em que se contrataria atores portadores de necessidades especiais para protagonizarem novelas e seriados da globo.
Outra questão passível de debate é a utilização da expressão “somos todos”. Apesar da boa intenção (repito), a realidade é que não podemos saber de fato o que o outro passa na pele. Podemos, sim, ser solidários a uma causa, ter uma perspectiva de igualdade, mas nunca saberemos como é ser o outro e, portanto, o ideal mesmo seria dar oportunidade do outro se colocar e dar ouvidos a como se sente. Quer ter alguma idéia de como é estar no lugar de alguém? Comece a ouvir o que essa pessoa tem a dizer sobre isso, ou seja, dê voz, visibilidade e protagonismo a ela.
Isso não quer dizer que não podemos exercitar nossa empatia, que consiste em tentar se imaginar nas condições do outro ou tentar fazer um esforço para se colocar na perspectiva do outro, mas nunca será o mesmo que se sentir como o outro. A empatia necessita que se dê lugar ao outro para que ele possa se expressar e, assim, eu possa ter uma ideia de como ele se sente e me sentir conectado. Como diz Caetano Veloso: “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.
Enfim, a pouca venda de ingressos para os jogos paralímpicos nos faz encarar que ainda somos uma sociedade de exclusão e qualquer discussão neste sentido será bem-vinda.
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