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Tempo, tempo, tempo mano jovem

  • Marcelo Cardoso
  • 29 de jul. de 2016
  • 2 min de leitura

Minha divagação desta vez veio após ouvir uma frase da Monja Coen Sensei, zen budista. Dando uma entrevista a um programa de televisão, cujo assunto era o envelhecimento, a monja de 69 anos de idade disparou aos meus ouvidos que envelhecer é se dar conta de que tudo é finito, as coisas acabam e por isso estou muito mais presente no momento, usufruo do momento presente porque sei que ele acaba. Diferente de quando somos jovens, quando achamos que tudo é eterno.


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Realmente, tenho dificuldades de estar no aqui-agora neste mundo, tudo convoca para o futuro, cada vez tenho mais necessidade de coisas que não tinha antes, coisas novas com validade e capacidade de satisfação cada vez mais encurtada, ou seja, logo volto a precisar de mais e novamente. Cada nova coisa promete “A” satisfação, mas, após mal conseguir-la, já há promessa de algo mais satisfatório à minha frente, a tecnologia avança a passos largos e meu desejo tenta acompanhar com pernas curtas.


Estou sempre ávido a que eu termine a faculdade, que seja bem sucedido na profissão que escolhi, que comece e termine logo aquela pós, que cheguem as férias para fazer aquela viagem, que chegue o fim de semana, que chegue logo a nova temporada de “the walking dead”. Que chegue! E que chegue logo!


E deste jeito vou sentindo o tempo passar cada vez mais rápido e, por muitas vezes, peguei me perguntando o motivo do Natal estar chegando logo após o carnaval. Escuto muito a explicação de que o tempo, de fato, está mais acelerado em nossos dias. Mas será a entidade “o tempo” ou será nossa percepção do tempo?


Nossa sociedade atual tem o ego inflado característico da juventude, bem estimulado para o propósito de uma sociedade de consumo, como bem a classifica Zygmunt Bauman, 90 anos. Segundo Leandro Karnal, 53 anos, culturas antigas retratavam frequentemente em suas obras de arte a figura da caveira como simbolismo da morte para equilibrar o orgulho humano de se achar eterno e lançar a perspectiva do tempo para o momento presente. Hoje afastamos qualquer idéia de morte, agigantando nosso orgulho e onipotência com a vida. A perspectiva da morte real (é real, apesar da fantasia de que iremos viver para sempre) é o que nos permite viver o real presente, duas faces da mesma moeda.


Parece que fomos tomados e subjugados pelo arquétipo de “pueris aeternus” (juventude eterna), cujo representante mais conhecido em nossa cultura é o “Peter Pan”. Vivemos eternamente sem querer crescer, envelhecer e morrer. Somos eternos infantes na loja de brinquedos, berrando e chorando e exigindo à mãe capitalista satisfação imediata. Temos muito a aprender com o mundo oriental e com os sábios senhores maiores de cinqüenta.

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