Re-plugar-se
- Marcelo Cardoso
- 5 de ago. de 2016
- 2 min de leitura

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Essa semana assisti a um vídeo em que “Lady Gaga” falava sobre sua doença. A cantora afirma sofrer de depressão e ansiedade e toma remédios freqüentemente para manter o equilíbrio. Disse que ao tentar parar de tomar os medicamentos o medico a advertiu que não fizesse isto, pois poderia prejudicar seu estado. Inconformada com a situação e pensando nas pessoas que não poderiam arcar com os custos do tratamento, passou a procurar formas alternativas de equilíbrio, que consistiam, segundo ela, em escrever poesia, atuar, meditar e a coisa mais importante, e a que a imbuia de aconselhar as pessoas, era dizer “não”.
Dizer “não” consistia em rejeitar tudo o que era contrário à sua forma de ver o mundo e aos seus valores. Passou a negar a realizar atividades em que se sentia vazia como participar de eventos e tirar “selfies” e parou de trabalhar exaustivamente para enriquecer a indústria musical que colocava sua criatividade “no banco de trás”. Mas, para isso, ela tinha que entrar em contato com ela mesma muitas vezes ao dia e checar se aquela tarefa fazia parte de seu desejo e sua vontade e se condizia com seus valores, ou seja, várias vezes ao dia ela deveria entrar em contato consigo mesma para verificar a consonância de si com as coisas que fazia e era demandada a fazer.
Parece simples, mas o trabalho é hercúleo. Em tempos de espetáculo, mostrar-se equivale a existir e a existência só pode ser validada pela aprovação do outro. Colocar-se como objeto é dançar conforme a música: não vemos, só precisamos ser vistos; não ouvimos, só precisamos ser ouvidos; não falamos (não dizemos muita coisa), só precisamos ser falados. Sofremos as ações e nossos sujeitos desapareceram das orações. Há o imperativo da voz passiva e não dos damos conta, pelo que somos ludibriados pelo papel de protagonistas.
Dizia Fernando Pessoa sob o heterônimo de Álvaro de Campos no poema “Se te queres matar”: “És importante para ti, porque é a ti que te sentes. És tudo para ti, porque para ti és o universo”
A ironia da era da conectividade é sermos conectados ao mundo exceto a nós mesmos.
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